“Você me amou errado, menina. Seu problema sempre foi esse: distribuir seu amor torto pras pessoas mesmo sabendo que elas não poderiam retribuir. Pelo menos não com a mesma intensidade que deseja. Enquanto você tiver essa mania boba de submergir no ser amado, vai continuar com essa sensação de constante afogamento quando o amor acaba. É tanto sentimento estocado que quando chega o fim você não sabe se vomita tudo ou se engole de volta. Daí acaba empurrando tristeza goela abaixo e vomitando metáfora pros quatro cantos, como se alguém tivesse culpa da sua paixão compulsiva. A verdade é que foi você a responsável quando fez do amor sua morada. Achou mesmo que poderia construir uma estrutura firme e segura num terreno que mais parece areia movediça? Você que sempre foi tão esperta, moça. Daí que se afundou toda e o amor te engoliu. Porque se ele não te engolisse, você acabaria engolindo ele uma hora ou outra.
O que aconteceu com a gente é que você, achando que o amor era uma maratona, saiu correndo em disparada antes de darem a largada. E eu, bom, eu acabei ficando pra trás. Tentei te acompanhar, mas teu amor me dava arritmia só de olhar. Você dita uma velocidade e, mesmo se não for acompanhada, vai continuar indo. Indo, indo, indo até não sei lá pra onde. Sem força e quase sem chão, à procura de uma linha de chegada imaginária. Ainda que prestes a ter uma crise de hipoglicemia, se mantém no percurso, torcendo para que o outro esteja fazendo o mesmo. Minhas pernas não puderam te acompanhar. Eu só queria um negócio leve, entende? Que a gente trilhasse uma caminhada de mãos dadas sem um rumo pré-estipulado. Você me inscreveu nessa sua São Silvestre do Amor sem me perguntar se eu tava preparado, deu no que deu.”